segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Não me sinto



Hoje não quero nada, se algo quisesse seria uma gruta onde me esconderia pela eternidade. Não sou eu, é como se o meu corpo fizesse tudo sozinho e eu apenas visse de cima, como olhando do alto de uma janela. É como se não estivesse dentro do meu corpo, mas mesmo assim ancorada a ele.
Vejo-me a vaguear pelas ruas de Lisboa, estou na Baixa, no segundo a seguir já estou nas Docas e passa-se mais um segundo e estou numa praia longínqua a contemplar o mar. Viajo como se estivesse num eterno sonho, sou eu mas ao mesmo tempo não sou. Estou num rodopio enorme de um paradoxo, do qual eu não consigo sair.
Desisti, deixo-me apenas ir, como água numa onda, sem lutar, rolando e rodopiando, sem pensar onde nem como vou parar.
Sinto-me leve, agora que o mar me abraça e sinto o vento a passar por mim, senti-me de novo, todos os pensamentos voaram da minha cabeça como pássaros de origami, era eu. Sinto que posso fazer tudo, posso saltar, gritar, correr e ninguém me impede, mesmo que tentassem eu não ia parar, nunca, pois agora estou livre.
Finalmente sou eu e não um corpo estranho que vagueia na rua, soltei-me e ninguém o pode impedir. Vejo-vos a todos, a cirandarem como baratas tontas, nas vossas vidinhas sem nexo e propósito, regidos como no exército por todas as regras estúpidas da sociedade. Olham para mim, contemplam-me, mas nada podem fazer, pois eu libertei-me, sou livre, e vocês? Que se pode dizer... São uns tristes, apenas vagueiam pelas ruas com toda a sociedade, com um suposto rumo, mas não se encontram nem se sentem.
Eu sinto duas coisas, eu própria e pena de vocês.

3 comentários:

  1. "Sinto-me leve, agora que o mar me abraça e sinto o vento a passar por mim, senti-me de novo, todos os pensamentos voaram da minha cabeça como pássaros de origami, era eu. Sinto que posso fazer tudo, posso saltar, gritar, correr e ninguém me impede, mesmo que tentassem eu não ia parar, nunca, pois agora estou livre.
    Finalmente sou eu e não um corpo estranho que vagueia na rua, soltei-me e ninguém o pode impedir."

    Que trecho belo. Muitas vezes, de repente, me sinto assim, e com muita força.

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  2. não é como se você voltasse a si agora, à realidade de dentro de seu próprio corpo, enxerga novamente através dos próprios olhos, sente-se a si novamente, vê as cores ao seu redor bem fortes e sente o cheiro da grama cortada (quando há grama para sentir o seu cheiro)? E ainda, à noitinha, vai dormir lembrando-se do que fez durante o dia todo com grande vividez? Não sei porque, isso me faz um sentido profundo. Talvez faça algum sentido para você, ou não.

    Abraço.

    Rafa
    cabeludorafael@hotmail.com

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  3. Antes demais obrigada por teres passado por cá... Quando das por ti, notas que nao ves nada a tua volta, nao sentes, nao ouves, parece que faz um click e tudo parece novo como se tivesses nascido nesse momento... É uma sensação tao boa, que nao se quer perder nem quando se adormece :)

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