sábado, 26 de setembro de 2009

A Perda



Acordas, e parece apenas ser um dia como todos os outros. Está sol, pensas em tudo o que tens para fazer hoje... Alguém chega ao pé de ti, como uma cara que não reconheces bem, mas pressentes que nada de bom vai vir daquela conversa que se está a aproximar. De repente é como se levasses com um balde que água gelada, atinge-te como um estalo bem assente, não sabes onde te agarrar, o teu mundo caí naquele momento, não sabes se hás de chorar, de gritar, de pular da janela, mas isto é apenas o receber da notícia, o choque da perda.

Dizem que o luto passa por cinco estágios: a negação, a revolta, a barganha, a depressão e a aceitação.

Logo após o choque inicial entras em negação, isolas-te, é um mecanismo de auto-defesa. Apenas não consegues acreditar que aquela pessoa partiu, para sempre, isso não aconteceu, não contigo, é apenas um pesadelo.

Prosseguem-se todas as cerimónias fúnebres, vais entrar no segundo estágio, a revolta, alguns é no velório, outros no enterro, uns poucos até mais tarde. A revolta começa a consumir-te, perguntas-te "Porque eu?" ou "Que mal eu fiz?". Não te consegues controlar, não consegues lidar com a situação, o mundo fecha-se sobre ti, sentes-te a sufocar, e simplesmente não consegues lidar com isso. Choras, gritas, queres estar sozinho, tudo a tua volta te irrita, todo um mundo é uma merda, não sabes onde te apoiar, na realidade nem sabes se queres apoiar-te em alguém. Veres aquele olhar de lamentação sempre que as pessoas te vêm, sentires que muitas pessoas só falam contigo por pura pena, consome-te, enraivece-te ainda mais.

A revolta vai atenuando, entras no terceiro estágio, a barganha, é aqui que o sentimento de culpa te invade, que começas a pensar em todas as coisas que deixaste de dizer a essa pessoa, pensas também em coisas que te arrependes de lhe ter feito, tal como discussões, coisas ditas da boca para fora que magoaram. Invocas muitas vezes Deus, ou outra qualquer entidade superior, para te aliviar aquele sentimento de culpa que te pesa tanto.

O quarto estágio é talvez o mais difícil de todos, a depressão, é quando o sentimento da perda é mais forte, quando as saudades apertam tanto que não consegues respirar. É a fase em que vais caminhar para a aceitação, vais ter que aprender a lidar com todos os sentimentos de perda. Alguns conseguem ultrapassar esta fase sozinhos, outros precisam de ajuda, de alguém que os ajude a compreender, a lidar com isso, mas sobretudo que os ajude a expressar todos os sentimentos de ter perdido alguém. Choras, sentes-te infeliz, não queres sair de casa, não queres ver ninguém, não tens vontade de comer, nada faz sentido. Pensas para ti que nada fazes neste mundo, que não tens mais nada que te agarre aqui, só queres que a dor pare, que as saudades cessem, queres que tudo seja uma grande mentira, queres acreditar que vais acordar deste pesadelo e nada se passou, que está tudo normal como dantes. Mas parece que todos os dias te sentes um bocadinho pior.

Por fim o último estágio, a aceitação. Por fim compreendes que nada podes fazer, que a pessoa foi, mas tu continuas cá e a tua vida segue em frente. De repente começas-te a sentir melhor, não sabes bem como mas consegues lidar com as saudades, e toda a dor da perda vai desaparecendo ao poucos. Olhas para trás e percebes que o ser humano tem uma força inigualável e sabes agora que és uma pessoa muito mais forte, e que há algum tempo atrás pensavas apenas que nunca ias conseguir lidar com a perda daquele alguém tão importante. A tua vida continua, as saudades estão lá sempre, mas já não te sufocam, relembras todos os bons tempos com um sorriso e uma lágrima. Em alguns dias sentes-te mais deprimido e choras de novo, tens sempre o desejo que a pessoa esteja ao teu lado. Percebes no fim que a vida é assim, e que ninguém vai estar cá para sempre, e sempre que alguém partir e tu ainda aqui estiveres, sabes que a vida continua e nunca te vais esquecer da pessoa, vai continuar sempre a ter sempre um lugar no teu coração, com uma eterna saudade lá guardada.