domingo, 31 de janeiro de 2010

Nego e sempre negarei



Era uma quarta-feira banal, como tantas outras, à excepção que nessa tarde íamos tomar café. Ficamos de nos encontrar na Baixa, em frente aos Armazéns do Chiado, às quarto da tarde estava lá a tua espera. Como sempre atrasaste-te, durante esse tempo fiquei a pensar que de todas as vezes que nos encontramos nunca me vem à mente um assunto para falarmos, mas incrivelmente ficamos sempre horas e horas a simplesmente conversar sobre tudo.

Ao fim de meia hora lá chegaste, depois de um abraço prolongado, decidimos subir até ao Bairro Alto, andamos sem destino por aquelas ruelas, até que encontramos um bar que nos agradou. Sentamos-nos e pedimos dois cafés.

Tinha saudades tuas e saudades de falar contigo, já não nos víamos à demasiado tempo, tinha tanto para te contar e tu a mim. Ficamos horas no bar, contamos tudo o que havia para contar, discutimos os assuntos que preocupam a sociedade, rimo-nos e choramos. Quando olhamos para o relógio já passava das oito da noite, perguntaste-me se tinha alguma coisa para fazer à noite, respondi-te que não, sugeriste jantarmos por ali, logicamente aceitei, nenhum plano seria melhor do que jantar contigo.

Descemos o Bairro Alto, andamos até ao Largo do Carmo, entramos num restaurante que parecia ter um ambiente agradável, a música ambiente era chillout, nenhum sítio podia ser mais indicado para jantar. Pedimos uma dose de rosbife e para começar uma garrafa daquele vinho branco divinal.

Como seria de esperar e, após comer-mos as entradas a garrafa de vinho já estava vazia, as nossas conversas vagueavam entre sérias e cómicas, ao ponto de discutirmos muito convictamente sobre as nossas opiniões ou chorarmos a rir com coisas parvas.
Veio o jantar, pedimos mais uma garrafa, reparámos em todas as pessoas estranhas que estavam no restaurante, rimo-nos tanto que já não conseguia largar a barriga. Pedimos as sobremesas, dois cafés e a conta.

Saímos do restaurante já bem alegres, eram dez da noite, perguntei-te se não querias ir beber mais um copo ao bairro, já sabia que irias aceitar. Lá fomos, a rirmos-nos e a metermos-nos com todas as pessoas, sentamos-nos na Associação de Loucos e Sonhadores, bebemos dois baileys e incrivelmente ainda tínhamos assuntos sem fim para conversar.

Ao fim de algumas horas, só sei que já era tarde, sugeriste darmos um saltinho à tua casa nova, ainda não a conhecia. Lá fomos a pé até São Bento, entramos num prédio com um porta pequena e escadas estreitas, subimos até ao último andar e do lado direito era a tua casa. Entrei e a primeira sensação que tive é que a tua casa tem aquilo a que se chama feng shui, uma harmonia e paz simplesmente acolhedoras. A sala era grande, na varanda tinhas uma mesa com uma vela no centro e duas cadeiras, conseguia-se ver o Tejo e a margem sul. Inspiradora a vista, consegui perceber como tens inspiração sem fim para escrever e por que gostas tanto daquela casa.
Pedi-te para sentarmos na varanda, acendeste a vela e ficamos a contemplar a vista.

Surgiu um assunto que me deixa num misto de ansiosa e nervosa, perguntaste-me se alguma vez pensei sobre ti de outra forma, se alguma vez fantasiei com algo entre nós. Não sabia o que responder, lógico que já tinha pensado, não uma nem duas vezes, tantas que não consigo contar pelos dedos, mas nunca to disse, tinha medo de como irias reagir, talvez fugisses ao assunto, ou talvez dissesses que ideia parva a minha.

Senti, não te sei explicar como, que desejavas que a resposta fosse positiva. Não te consegui responder, apenas te perguntei se já tinhas pensado nisso alguma vez. Olhaste para o chão e com alguma vergonha respondeste que sim. Eu sempre soube, desde o primeiro dia em que nos olhamos com os chamados "olhos de ver", mas convenci-me que nunca iria acontecer, por mais que o deseja-se com tanta força, que nem escrevendo conseguia acalmar esse desejo.

Passei a minha mão levemente pelo teu cabelo e pela tua cara, senti o teu desejo tão ou mais forte que o meu, levantas-te, aproximaste-te e deste-me um beijo na cara, o meu desejo nesse momento subiu ao máximo, todas a fantasias passaram pela minha cabeça a mil quilómetros à hora, sei que a ti também te aconteceu o mesmo, os nossos lábios tocaram-se e nesse momento soube que não queria que aquela noite acabasse.

Finalmente o desejo consumiu-nos, foi tão carnal e tão sentimental que só tu e eu entendemos. Acordei de manha, senti-te a abraçares-me com força, relembrei a nossa noite que só posso dizer duas coisas louca e indescritivelmente sensacional. Concordamos que nunca ninguém iria saber alguma vez daquela noite, por isso ainda hoje, tu e eu negamos e sempre negaremos.

Rita